8 de março: o que temos a comemorar?

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Você conhece as origens históricas do dia 8 de março? Pois saiba que é bem provável que tenha ouvido uma narrativa empacotada, mais adequada e conveniente a uma ordem dominante. No dia Internacional da mulher, tenho o prazer de compartilhar com os leitores da coluna um pequeno texto, claro e pontual, que retoma uma perspectiva sobre esses fatos que convenientemente, foi deixada de lado: o dia internacional da mulher é intrínseco à entrada das mulheres socialistas no operariado e à organização dessa classe, potente enquanto força organizada e com enorme potencial revolucionário.

O texto é de minha colega Jéssica Oliveira, historiadora, psicóloga e feminista, que compartilha conosco um pouco de seu olhar crítico:

Jéssica Oliveira é historiadora, psicóloga e feminista (Foto: Arquivo Pessoal/ Facebook)

8 de março: o que temos a comemorar?

A origem do dia ‘8 de Março’ tem mais de 100 anos.  A data em questão foi escolhida como um marco de luta, em agosto de 1910, na Conferência das Mulheres da Internacional Socialista, na Dinamarca.

Como assim? Eu sempre estudei que o dia ‘8 de Março’ surgiu para que nos lembrássemos das mulheres norte americanas que foram trancadas por seus patrões dentro de uma fábrica e queimadas vivas!

A divergência no que tange à origem do Dia da Mulher vem sido discutida há algum tempo por historiadores e sociólogos. Em 1996, Naumi Vasconcelos, docente da UFRJ, afirmou que a greve em Nova Iorque, em 1857, quando teriam morrido 129 operárias queimadas vivas, nunca existiu.

Outra pesquisadora canadense, Renée Côote, pesquisou durante dez anos a origem do dia, na tentativa de confirmar ou negar essa greve e não encontrou nenhum registro, nem nos jornais da grande imprensa da época, nem em nenhuma outra fonte. Segundo a autora, um mito foi construído em plena Guerra Fria, para que a verdadeira origem fosse camuflada.

O dia ‘8 de Março’  teria surgido, então, à partir de bandeiras de lutas levantadas por feministas socialistas durante o século XX. Tendo como principais reivindicações o direito ao voto, melhores salários e condições de trabalho e o fim “escravidão” sexual.

Não é novidade para ninguém que as feministas não surgiram agora, no século XXI. Elas estão organizadas pelo mundo há muito tempo. Podemos estudar movimentos feministas por vários ângulos, sejam por suas vertentes, períodos históricos, suas demandas.  Todavia, é inquestionável que todo e qualquer direito das mulheres foram conquistados com muita luta, suor e sangue.

O Dia da Mulher não foge à regra! Ele foi deixado por nossas antepassadas para que não esqueçamos que quem não se movimenta não sente às amarras que nos prendem, como diria a grande Rosa Luxemburgo.

Ele foi instituído para que não nos deixemos acreditar que a opressão, violência e exploração cometidas contra nós, mulheres, não é natural, nem sempre existiu e não precisa continuar existindo, basta olhar pra história.

Mas qual o motivo de questionar a real origem do dia ‘8 de Março’?

Questionar este dia não significa desvalorizar o significado histórico que este adquiriu, muito ao contrário. Significa enriquecer a comemoração deste dia com a retomada de seu sentido original, que é o de luta!

Significa, também, integrar todos os novos e importantíssimos aspectos das lutas pela libertação da mulher, assim como por uma sociedade mais justa.

Significa olhar para o passado, refletir sobre o presente e planejar nosso futuro.

E por falar em futuro, que futuro é esse que queremos deixar pras nossas futuras gerações onde a cada 5 minutos uma mulher é estuprada? Onde 3  a cada 5 mulheres já foram vitimas de violência doméstica? Onde 12 mulheres são assassinadas todos os dias no Brasil pelo simples fato de serem mulheres?

JÉSSICA OLIVEIRA, HISTORIADORA, PSICÓLOGA E FEMINISTA