Especial 8 de março: violência e assédio ainda são os maiores desafios das mulheres no Brasil

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Ato público denuncia os casos de feminicídio no Brasil (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)

 

No dia 8 de março é celebrado em todo o mundo o Dia Internacional da Mulher, que diferente da maioria das datas comemorativas, vai além de uma homenagem a todas as mulheres, a data representa também a luta histórica pela conquista de direitos e igualdade de gênero. O dia 8 de março faz referência a um acontecimento no ano de 1857, quando neste mesmo dia 129 operárias de uma indústria têxtil do EUA foram queimadas vivas após aderirem a uma greve por melhores salários e licença-maternidade.

A data foi instituída em 1910 e oficializada pela ONU em 1975, e desde então muitos direitos, como o voto, o aborto e o de escolher quando engravidar foram conquistados. É claro que a realidade não é a mesma em todos os países e continentes do mundo. No Brasil por exemplo, apesar de inúmeros avanços recentes como a criação da Lei Maria da Penha em 2006 e a Lei do Feminicídio em 2015, as mulheres ainda sofrem diariamente com situações de assédio, abuso e principalmente violência, muitas vezes com desfecho fatal.

Uma pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e divulgada na última semana, apresenta a realidade que o público feminino vem enfrentando no Brasil. O período da pesquisa é referente ao ano de 2017 e traz importantes dados para análise e reflexão, quando diz por exemplo que 66% da população feminina entre 16 e 24 anos relata já ter sofrido algum tipo de assédio, como ouvir comentários desrespeitosos, receber abordagens agressivas ou serem agarradas ou beijadas a força. Somente esse dado já escancara uma realidade a parte onde vivem a maioria dos homens, que se sentem superiores na sua condição de homem e no direito de tomar a liberdade da mulher para ele.

A pesquisa traz ainda outras informações detalhadas, como o fato de que 536 mulheres foram vítimas de agressão física POR HORA no ano de 2017, o que dá um total de quase 5 milhões de mulheres durante o ano inteiro. Casos mais sérios, como espancamento e tentativa de estrangulamento chegaram a somar 180 por hora, atingindo diretamente 1,6 milhão de pessoas e em mais de 76% dos casos, os agressores eram conhecidos da vítima, como companheiros e ex companheiros ou vizinhos.

De acordo com os dados da pesquisa, podemos dizer que realmente o perigo mora em casa, já que 42% dos casos de violência aconteceram dentro da própria casa da vítima. Outros ambientes comuns onde as mulheres mais são vítimas de violência é nas ruas (29%) e no trabalho (8%). Em todos casos envolvendo assédio ou violência, a incidência é sempre maior entre as mulheres pretas ou jovens entre 16 e 24 anos.

A Lei do Feminicídio foi sancionada em 2015 no Brasil e representa um marco penal no que diz respeito a morte intencional de pessoas do sexo feminino. O feminicídio é classificado atualmente como crime hediondo e é aplicado quando a causa de um assassinato é comprovadamente motivada por questões de gênero, que é quando uma mulher é morta simplesmente pelo fato de ser mulher. A pena para o crime é de no mínimo 12 anos de prisão.

Pesquisas do ano de 2017, divulgadas na imprensa nacional na época, mostram que aproximadamente 8 mulheres são vítimas de feminicídio por hora no Brasil. O país ocupa o quinto lugar entre os países que mais matam no mundo por questões de gênero.

As questões sociais que abrangem as mulheres ainda são muitas, o salário inferior ao do homem, a dupla jornada de trabalho, a falta de representatividade em diversas instâncias e muitas outras situações entram para a lista. A realidade atual apenas evidencia que o Brasil e suas mulheres ainda tem muito o que caminhar na direção da conquista por mais igualdade, direitos, respeito e segurança. Os desafios são enormes e o principal deles é a própria sociedade, que precisa romper urgentemente com o estereótipo machista e antiquado no qual enxerga a mulher.

No dia 8 de março, comemoremos, mas também lutemos, por um futuro igual e justo para todos.