Natal: tempo de sonho e de magia

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Luzes coloridas por todos os lados, enfeites nas casas, arvores totalmente iluminadas, muita festa, presentes e a espera pelo Papai Noel: é inegável o estado de excitação que essa época provoca em algumas pessoas. Para os cristãos, a data remete à esperança e salvação, nascimento de Jesus. Mas o Natal provoca também, em grande parte de pessoas, um sentimento de melancolia.

Lembro-me de uma época em que, apesar de sermos ainda crianças, já tínhamos idade mais que suficiente para saber que não era Papai Noel quem trazia o presente. Mas um de nossos colegas era motivo de chacota entre o grupo. Ele tentava nos convencer que não era nada disso, Papai Noel existia sim. Argumentava elencando suas razões para manter a crença. Era só procurar bem, dizia ele, e encontraríamos suas pistas: marcas de suas botas no chão da casa, embrulhos deixados em baixo da cama, e até pratos da ceia que teriam sido provados pelo bom velhinho, cansado e com fome de tanto percorrer o mundo todo em seu trenó voador. Todos riam muito do seu discurso, mas ele não colocava sua crença em dúvida.

Dias atrás nos reencontramos, e falando sobre esses fatos, meu amigo relatou, parecendo reviver o sentimento de desilusão de criança, o quão difícil foi para ele quando descobriu que não havia mesmo o bom velhinho.

Walter Benjamin, filósofo que conheço muito mais pelas citações de Maria Rita Kehl do que por leituras sistemáticas, afirma que uma das primeiras experiências de espanto que a criança vive no mundo não é saber que os adultos são mais fortes que elas, mas a de se depararem com sua incapacidade de encantamento. “É provável, alias, que a invencível tristeza que às vezes toma conta das crianças nasça precisamente dessa consciência de sua incapacidade de magia”, afirma o filósofo.

Por essa perspectiva, podemos compreender o sentimento de desânimo e melancolia que acompanha essas pessoas como uma dificuldade de se recuperar do trauma de saber que tudo não passava de histórias, que a fé no Papai Noel, como fé numa potência paterna superior, teve de ser renunciada. Como o Natal marca um tempo de recriar esperanças e sonhos, o desencantamento extremo do mundo pode trazer, no lugar de esperança, um sofrimento desesperançoso.

Mas natal é tempo também de reunião familiar, de culinária típica e troca de presentes. E presentear, embora carregue de forma mais evidente seu aspecto feliz e positivo, pode ser também um tormento. Dar um presente exige de nós o conhecimento do outro, para agradá-lo, mas pode ser também o momento que revela que quase ninguém sabe de nós, o que pode provocar um sentimento de solidão.

Mesmo para esses desesperançosos, para quem o Natal não faz muito sentido, ele se repete todo ano. Assim como um sintoma, essa repetição nos dá a possibilidade de fazermos as coisas de um jeito novo. Novos encontros, novas intenções e novas ilusões. Afinal, essas últimas são ingredientes fundamentais para a nossa capacidade de sonhar.

Um bom Natal para todos, e que para além da sua dimensão capitalista e materialista, ele traga a todos nós o encantamento necessário para acreditarmos nos nossos sonhos, para trabalharmos para uma vida e um mundo melhor!