RESENHA: 1917

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Em 1917 o grande foco do diretor Sam Mendes é contar uma história sobre o homem e não sobre a guerra em si. Com tal abordagem, 1917 nos faz refletir sobre o que pode levá-lo mais adiante: a vontade de voltar para casa ou o senso de responsabilidade com a sua pátria. A humanidade ingênua que ecoa nos personagens dos cabos Schofield (George MacKay) e Blake (Dean-Charles Chapman), comandam a levada do primeiro ato. Sabendo dessa condição ambos são maquiavelicamente levados a uma missão praticamente suicida. Missão dada através das lentes de uma câmera viva, feita pra incomodar, pra colocar o telespectador no meio do caos, passando por mortos, pisando em ratos e desviando de soldados.
Sam transita em vias duras com tonalidade delicada e inquietante, usando a fotografia como narrativa, em alguns momentos compensa a ausência de um roteiro complexo e diálogos antagônicos. Mostra-se maduro na direção, tirando dos atores o equilíbrio necessário para fazer um filme com apenas um corte de câmera – fato que não passará despercebido por qualquer pessoa que imergir nessa guerra, Imersão, essa é a intenção do diretor com o longa – além de homenagear seu avô, o diretor humaniza o ato mais desumano criado pelo ser humano.
Questões políticas de guerra – em uma das guerras mais políticas, são jogadas de lado. O que é mostrado são homens não se conhecem e não se odeiam lutando por homens que se conhecem e se odeiam, mas não se matam. São jovens que ainda não são corrompidos pelo poder de tirar a vida. George MacKay apresenta a grande atuação da sua carreira, jogado nas trincheiras o ator tem que andar na linha tênue entre o pânico, a segurança e a sua humanidade. Na ausência de diálogos o ator transparece suas sensações na medida, sem soar exagerado trás o equilíbrio como ritmo de atuação durando os atos do longa.
No terceiro ato, Sam traz homenagens e uma fotografia que transforma o trágico cenário de guerra, em beleza. Beleza de uma criança, de uma canção, da inocência, da força da palavra. Há quem diga que missão dada é missão cumprida, então Sam, George, Dean, cumpriram essa missão. Salvar vidas, ser leal, fazem parte do cotidiano da boa convivência em sociedade, mas na guerra são virtudes que quebram as rédeas da desumanidade.
1917 vem tendo grande destaque nas premiações que precedem o Oscar. Não se trata de um grande roteiro – porém é redondo no que se propõe a ser, traz atuações na medida e prioriza relações humanas em um ambiente hostil. Seu jogo de câmera e sua fotografia faz do filme uma experiencia imersiva e prazerosa, a ausência de politizar a obra aumenta a sensação de empatia. O longa conta ainda com Benedict Cumberbatch e Colin Firth, que fazem aparições pontuais, deixando o protagonismo para as relações que uma guerra proporciona.