Cientista mirassolense relata experiência de trabalhar e realizar pesquisas na Antártica

Cientista mirassolense relata experiência de trabalhar e realizar pesquisas na Antártica (foto: arquivo pessoal)
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Existem algumas experiências que poucas pessoas no mundo terão a oportunidade de viver, conhecer a Antártica é uma delas. O continente mais gelado do mundo não é habitado por nativos, toda a construção que existe por lá é formada por centros de pesquisa e o turismo no local também é bastante restrito, por isso não é um destino alcançável para todos. Mas o mirassolense Danilo César de Mello, de 38 anos, faz parte da exceção, ele teve a chance de permanecer no local por dois meses para realizar sua pesquisa de doutorado e contou em entrevista ao Mirassol Conectada de que forma seu trabalho pode contribuir para o Brasil.

O cientista é Engenheiro Agrônomo, Mestre em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ-USP), Doutorando em Solos e Nutrição de Plantas (Universidade Federal de Viçosa – UFV) e durante os meses que esteve nas geleiras do polo sul seu principal objetivo foi estudar sobre a caracterização geofísica dos solos – algo nunca antes realizado na Antártica Marítima – e realizar a quantificação de gás carbônico emitido no solo e nas plantas com uso de geotecnologias.

Na prática, as perguntas que o estudante busca responder com sua tese de doutorado tem como objetivo entender como as mudanças climáticas afetam o ambiente Antártico e como essas mudanças afetam o clima em escala global, frente a diferentes cenários de mudanças climáticas.

“A exemplo prático e resumido, praticamente todas as massas de ar frias que chagam a América do Sul e particularmente ao Brasil, se originam na Antártica. Essas frentes frias, junto com as massas úmidas oriundas principalmente da Amazônia, são responsáveis pela distribuição e intensidade de chuvas em todo o Brasil, e consequentemente pelo zoneamento agrícola, estimativa de produtividade e planejamento de todas as atividades agrícolas”, explica o cientista.

Teste com sensores geofísicos em diferentes estratos de deposição de gelo nas partes elevadas das montanhas. (foto: arquivo pessoal)

Portanto, entender como as mudanças climáticas afetam o ambiente Antárctico e, consequentemente, o clima em escala global, pode ajudar a prever o destino da agricultura brasileira, segundo o estudioso: “uma vez que todas as culturas dependem das águas oriundas das chuvas (distribuição e quantidade), além do fator térmico que pode gerar estresse por temperaturas em determinadas culturas resultando em perda de produtividade”.

Para ter os dados necessários para analisar de forma mais profunda em mãos, Danilo viajou até as geleiras no extremo sul do planeta em janeiro deste ano, onde permaneceu até março. Antes de embarcar, ele passou por um treinamento Pré Antárctico, na Marinha do Brasil, no Rio de Janeiro. Depois foram 11 dias de navegação no Navio Polar Almirante Maximiano, na operação 40. Ao desembarcar no continente ele foi direcionado para a Estação Antártica Comandante Ferraz para elaborar seu estudo, que envolveu toda a Península Keller.

Danilo está sendo orientado pelo professor Márcio Rocha Francelino, que é engenheiro agrônomo pela Universidade Federal Rural do Semiárido, mestre e doutor em Agronomia (Solos e Nutrição de Plantas) pela UFV. Atualmente é professor Titular do Departamento de Solos da UFV e coordenador do Programa de Pós-Graduação de Solos. Ele é revisor de várias revistas nacionais e internacionais na temática solos e meio ambiente. É coordenador do Núcleo Terrantar, de estudo dos ecossistemas terrestre da Antártica, vinculado ao INCT da Criosfera. Desde 2003 desenvolve pesquisas nas áreas livres de gelo da Antártica e dos Andes, atuando na s linhas de pesquisa pedologia e pedometria, com trabalhos realizados em várias regiões do Brasil e em outros países da América Latina. É expert em Geotecnologias aplicadas a estudos ambientais.

Rotina

Durante o período que permaneceu no local sua rotina era acordar, checar a previsão do tempo e em seguida ir a campo para coletar dados. Como nesta época do ano por lá é verão os horários são bastante diferentes dos que estamos acostumados no Brasil, já que o sol nasce por volta das 5h e se põe por volta das 22h, garantindo um longo tempo de luz.

O trabalho era desempenhado por Danilo de domingo a domingo e envolvia subir, por vezes escalar, e descer montanhas carregando uma série de equipamentos, materiais e mantimentos nas costas. Quando ele chegava no ponto ideal o trabalho era cavar o solo utilizando um enxadão que fazia parte das ferramentas que eram levadas nessas jornadas diárias.

Devido ao terreno desafiador, que envolvia, entre outras coisas, rochas, fragmentos e relevos declivosos que dificultavam o deslocamento, Danilo teve ao seu lado um alpinista contratado pela Marinha, que o auxiliou durante toda a pesquisa. Além disso, o orientador Márcio Francelino também acompanhou a expedição durante um mês. Ele conta que seu principal desafio, ao contrário do que muitos pensam, não foi o clima, mas sim os fortes ventos, que chegavam a atingir 60 quilômetros por hora com frequência, o que fazia com que as partes do corpo que ficavam expostas perdessem a sensibilidade, além de dificultar a caminhada.

Danilo Mello durante trabalho realizado a campo (foto: arquivo pessoal)

Apesar de o trabalho ser desempenhado de domingo a domingo, muitas vezes o pesquisador não recebia autorização da Marinha para sair a campo, devido à previsão do tempo. Isso acontecia principalmente quando os ventos estavam muito fortes ou quando existia possibilidades de tempestades de neve e chuva.

Após realizar o trabalho em campo, os dois companheiros retornavam ao centro de pesquisa para tomar banho, alimentar-se e descansar para o próximo dia. Um dos pontos destacados por Danilo é que a Estação brasileira que existe no local é muito bem equipada, com laboratórios, infraestrutura e equipamentos de ponta, além de fornecer muito conforto aos hóspedes e uma comida excelente.

Estação Antártica Comandante Ferraz (foto: arquivo pessoal)

“Eu subia (escalava por vezes) e descia montanhas o dia todo com o sensor nas costas, mochila, água e suprimentos para coletar meus dados de campo (que não eram poucos). Tive que abrir 24 perfis de solos com enxadão, que as vezes carregava também. Tive treinamento e auxílio de um alpinista contratado pela Marinha, que ficou praticamente por conta do meu experimento. O dia no verão Antártico amanhece as 5 da manhã e escurece por volta de 22 horas da noite. Tínhamos várias horas de luz para trabalhar. A Estação nos fornecia todo o apoio logístico”, completa ele.

Experiência

Mesmo sendo uma viagem focada em realizar pesquisas e trabalhar, Danilo conta que a Antártica possui uma das paisagens mais bonitas que ele já viu na vida. Ele conta que muidas vezes achava até que estava em outro planeta, tamanha era a beleza natural. “A combinação montanha, mar, gelo, afloramentos rochosos, solos com cores variadas, neve e vegetação de pequeno porte formavam uma paisagem única”, diz.

Danilo conta que a paisagem da Antártica é uma das mais belas que ele já viu (foto: arquivo pessoal)

Durante o verão antártico, a temperatura média foi de -1º celsius, com variações de 6ºC positivos a 19º negativos. Durante sua estada no local ele presenciou e sentiu quatro tremores de terra, além de um ciclone com ventos constantes de velocidade média de 100 km/h.

Frentes de pesquisa

Danilo ao lado do esqueleto de uma baleia montada por Jacques Cousteau (foto: arquivo pessoal)

O trabalho desenvolvido pelo cientista envolve duas frentes de pesquisa:

“A primeira delas é a caracterização geofísica dos solos, que nunca antes foi realizada na Antártica Marítima por meio de sensores geofísicos. Esse trabalho consiste em primeiro lugar em medir a radiação natural dos solos, rochas e sedimentos e em segundo lugar medir a susceptibilidade magnética dos materiais. Com esses dados e análises físicas, químicas e mineralógicas de laboratório é possível aferir os processos de formação de solos e a dinâmica de paisagem que só ocorrem nessa região.

A segunda é a medição de gás carbônico emitido do solo e das plantas via respiração com uso de geotecnologias. Para isso é realizada a quantificação de gás carbônico absorvido via fotossíntese e a quantificação da produção primária líquida das diferentes comunidades vegetais e solo exposto (áreas livres de gelo) da ilha. Além disso, também foi feita a medição de temperatura e umidade dos solos avaliados.”

Sensor IRGA utilizado para quantificação de gás carbônico e produção primária líquida (foto: arquivo pessoal)

Danilo explica que com esses dados será possível fazer uma modelagem e previsão do que pode acontecer com o ambiente Antártico, frente aos diferentes cenários de mudanças climáticas apontados pelo IPCC (aumento de temperatura).

“Afinal a Antártica é uma área de emissão ou absorção de carbono, frente as mudanças climáticas? As áreas em degelo estão sendo colonizadas ou não por diferentes comunidades vegetais? Quanto temos atualmente de área livre de gelo na Antártica? Qual é a extensão do permafrost que temos na Antártica Maritima (solo congelado que pode conter CO2, metais pesados e outros componentes estabilizados pelo gelo)? Essas são algumas das perguntas que tentaremos responder com minha tese”, pondera.

E já que a pesquisa tem um foco mais ambiental, com ela será possível responder o que ocorre em determinado ambiente que afeta diretamente em outro.

Projeto Terrantar

Danilo subindo montanha junto com orientador Márcio Francelino para manutenção do sítio de um dos sítios de monitoramento de permafrost. (foto: arquivo pessoal)

A Rede Terrantar de estudos de Mudança climáticas em solos e permafrost na Antártica e nos Andes (onde Danilo atua como membro) funciona há mais de 20 anos, realizando pesquisas da UFV no continente gelado. O projeto foi pioneiro em Minas Gerais e no Brasil nos estudos de mudanças climáticas em solos de regiões geladas e é integrante do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) da Criosfera.

O Terrantar/Permaclima conta hoje com 32 sítios de monitoramento de temperatura do permafrost e do ar, espalhados pela Antártica e Cordilheira dos Andes, com longas séries temporais que revelam o estado do permafrost frente ao aquecimento global. A coordenação do projeto está a cargo dos professores Carlos E. R. Schaefer e Márcio R. Francelino da UFV, que destacam a continuidade também de inúmeras parcerias nacionais e internacionais, e extensa publicação de ponta no tema.

Formação acadêmica

Danilo iniciou a graduação em Engenharia Agrônoma em 2012, durante o curso ele sempre esteve muito envolvido ativamente nos estudos, trabalhos e pesquisas relacionadas a solos e meio ambiente, sendo monitor concursado em três das quatro disciplinas de solo obrigatórias da agronomia, além de outras na área ambiental. Também participou de grupos de pesquisas relacionadas ao planejamento sustentável do uso da terra e recursos naturais e, ainda na graduação, ministrou cursos de extensão na temática solos e meio ambiente.

Depois disso, realizou intercâmbio e estudou inglês na Austrália, onde morou e estudou por um ano e seis meses em uma das melhores universidades de agronomia (University of Adelaide). Lá ele cursou diversas disciplinas da área de manejo e conservação de solo e água.

Em 2015, Danilo realizou intercâmbio e estudou inglês na Austrália (foto: arquivo pessoal)

Após a graduação ele foi aprovado em três programas de pós-graduação (modalidade mestrado) nas três melhores instituições do Brasil em Solos e Nutrição de Plantas, escolhendo cursar na ESALQ USP. Durante o período seu trabalho era mais voltado a solos tropicais, porém ele já tinha muito interesse em ambientes e paisagens de climas frios glaciais, periglaciais, como os da Antártica e por isso pesquisava muito sobre o assunto. Foi quando ele conheceu dois dos pesquisadores mais atuantes e influentes nessa área: professor Carlos Ernesto G. R. Schaefer e professor Márcio Rocha Francelino, ambos da UFV.

O cientista sempre teve interesse em ambientes e paisagens de climas frios glaciais, periglaciais, como os da Antártica (foto: arquivo pessoal)

Então, após finalizar o mestrado e ser aprovado em dois programas de doutorado, na UFLA e UFV, ele entrou em contato com o professor Carlos Schaefer, demonstrando seu interesse em atuar com ele no projeto TERRANTAR e PERMACLIMA, que estudam o ambiente da Antártica com viés ambiental, incluindo as relações dos solos com as demais esferas ambientais. O retorno desse pedido era de extrema importância para ele, que conta que só cursaria doutorado na universidade em questão caso tivesse a oportunidade de pesquisar e trabalhar na Antártica.

“Ele após analisar meu currículo e nota de aprovação, aceitou me orientar e aceitou a proposta de realizar minha Tese na Antártica”, finaliza o cientista.

Entrevista completa com o cientista mirassolense Danilo Mello:

  1. Faça um resumo sobre sua formação e área de atuação.

Sempre atuei ativamente em estudos, trabalhos e pesquisas relacionadas a solos e meio ambiente. Desde estágios e monitorias na época de graduação (2012 – 2018). Fui monitor concursado de 3 das 4 disciplinas de solos obrigatórias que o curso de agronomia faz, além de outras relacionadas a área ambiental. Participei de grupos de pesquisas relacionados a planejamento sustentável do uso da terra e recursos naturais e, ainda na graduação ministrei cursos de extensão na temática solos e meio ambiente. Além disso, tive a oportunidade de realizar um intercâmbio e estudar inglês na Austrália (graduação “sanduiche”) onde morei e estudei por 1 ano e meio em uma das melhores universidades australianas de agronomia (University of Adelaide). Lá cursei diversas disciplinas da área de manejo e conservação solo e água.

  1. Porque se interessou por essa área, o que já fez antes de realizar essa experiência na Antártica e como surgiu o convite para ir até lá?

Após concluir minha graduação, fui aprovado em primeiro lugar em três programas de pós-graduação (modalidade mestrado) nas 3 melhores instituições do Brasil em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ-USP em Piracicaba – SP; Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG e; Universidade Federal de Lavras em Lavras-MG). Escolhi cursar o mestrado na ESALQ-USP sob a orientação do professor Alexandre Demattê.

Na ESALQ-USP, mesmo trabalhando com solos tropicais eu já era fascinado por solos, ambientes e paisagens de climas frios (glaciais, periglaciais etc.) como os da Antártica. Nessa época eu já pesquisava e lia trabalhos de um dos pesquisadores mais atuantes e influentes nessa área (Professor Carlos Ernesto G. R. Schaefer da UFV).

Ao finalizar meu mestrado, novamente fui aprovado em primeiro lugar em 2 programas de doutorado (UFLA e UFV). Entrei em contato via e-mail com o professor Carlos Schaefer (que já o conhecia de disciplinas da graduação) e disse tinha interesse em atuar junto a ele no projeto TERRANTAR e PERMACLIMA (projetos que estudam o ambiente Antártica com viés ambiental, incluindo as relações dos solos com as demais esferas ambientais). Além disso, eu que só iria cursar o doutorado na UFV, caso tivesse a oportunidade de pesquisar e trabalhar na Antártica. Ele após analisar meu currículo e nota de aprovação, aceitou me orientar e tornou-se meu orientador na época, aceitando a proposta de realizar minha Tese na Antártica.

Ponto mais alto da Península Keller (Pico Norte – 330m) próximo às geleiras que contornam a Península (foto: arquivo pessoal)
  1. Como foi a preparação para pisar nas terras do polo sul?

Realizei um treinamento obrigatório para quem vai para Antártica, em julho de 2021 (Treinamento Pré Antártico – na Marinha do Brasil – RJ). Depois embarquei para a Antártica no Navio Polar Almirante Maximiano, na operação 40 (janeiro de 2022 – março de 2022) na cidade de Rio Grande (RS). Foram 11 dias de navegação até a chegada na Bahia do Almirantado (Antártica Marítima). Permaneci na Estação Comandante Ferraz pouco mais de 2 meses.

  1. Qual foi sua área de estudo durante o período que permaneceu por lá?

Minha área de estudo foi toda a Península Keller. Minha pesquisa envolve duas frentes de pesquisa:

1 – Uma caracterização geofísica dos solos, nunca antes realizada na Antártica Marítima (por meio de sensores geofísicos).

Um mede a radiação natural dos solos, rochas e sedimentos e o outro mede a susceptibilidade magnética dos materiais. Com esses dados e dados de analises físicas, químicas e mineralógicas de laboratório é possível aferir processos de formação de solos e dinâmica de paisagem que só ocorrem nessa região.

2 – Envolve medição e quantificação de gás carbônico emitido do solo e plantas (via respiração)

Quantificação de gás carbônico absorvido via fotossíntese e quantificação da produção primária liquida das diferentes comunidades vegetais e solo exposto (áreas livres de gelo) da ilha. Além disso, medição de temperatura e umidade dos solos avaliados. Com esses dados é possível fazer uma modelagem e previsão do que pode acontecer com o ambiente Antártico, frente aos diferentes cenários de mudanças climáticas apontados pelo IPCC (aumento de temperatura). Afinal a Antártica é uma área de emissão ou absorção de carbono, frente as mudanças climáticas? As áreas em degelo estão sendo colonizadas ou não por diferentes comunidades vegetais? Quanto temos atualmente de área livre de gelo na Antártica? Qual é a extensão do permafrost que temos na Antártica Maritima (solo congelado que pode conter CO2, metais pesados e outros componentes estabilizados pelo gelo)? Essas são algumas das perguntas que tentaremos responder com minha tese.

Caracterização geofísica com uso de sensores próximos em solos no topo das montanhas da Península. (foto: arquivo pessoal)
  1. Como era a sua rotina?

A rotina na estação era a seguinte: Acordar, ver previsão do tempo e ir para o campo coletar dados. Eu subia (escalava por vezes) e descia montanhas o dia todo com o sensor nas costas, mochila, água e suprimentos para coletar meus dados de campo (que não eram poucos). Tive que abrir 24 perfis de solos com enxadão, que as vezes carregava também. Tive treinamento e auxílio de um alpinista contratado pela Marinha, que ficou praticamente por conta do meu experimento.

O dia no verão Antártico amanhece as 5 da manhã e escurece por volta de 22 horas da noite. Tínhamos várias horas de luz para trabalhar. A Estação nos fornecia todo o apoio logístico. Refeições etc. Aliás a nossa estação brasileira é muito bem equipada com laboratórios, infraestrutura e equipamentos de ponta, além de conforto e comida excelente. A marinha administrava a logística do campo, levando em consideração a previsão do tempo. Ventos muito fortes, tempestades de neve e chuva as vezes prejudicavam a saída de campo. Aliás o problema na Antártica é o vento que literalmente queima onde pega no seu corpo e dificulta o caminhamento no campo (quase que constante e forte com velocidades médias variando de 30 a 60 km/h frequentemente). Também o material solto (rochas e fragmentos e relevo declivoso dificultavam um pouco o campo.

Ao final do dia o alpinista e eu voltávamos para a estação tomávamos banho, comíamos algo e descansávamos para as atividades do próximo dia. Eu trabalhava de domingo a domingo, se o clima e a marinha permitissem.

  1. Como seus estudos na Antártica podem contribuir para o Brasil e na sua formação Básica em Agronomia?

Minha pesquisa tem um foco mais ambiental, o que ocorre em um determinado ambiente afeta o outro. A exemplo prático e resumido, praticamente todas as massas de ar frias que chagam a América do Sul e particularmente ao Brasil, se originam na Antártica. Essas frentes frias, junto com as massas úmidas oriundas principalmente da Amazônia, são responsáveis pela distribuição e intensidade de chuvas em todo o Brasil, e consequentemente pelo zoneamento agrícola, estimativa de produtividade e planejamento de todas as atividades agrícolas. Então entender o como as mudanças climáticas afetam o ambiente Antártico e como essas mudanças afetam o clima em escala global, frente a diferentes cenários de mudanças climáticas, pode ajudar a prever o destino da agricultura brasileira, uma vez que todas as culturas dependem da água oriunda das chuvas (distribuição e quantidade), além do fator térmico que pode gerar estresse por temperaturas em determinadas culturas resultando em perda de produtividade.

Sugestão de reportagem: Maria Rita Pestillo