Travesti é roubada e agredida após programa sexual em Mirassol

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Uma travesti que trabalha como garota de programa foi roubada por um cliente na última sexta-feira (23), em Mirassol. A vítima A.M.R.J, 26 anos, circulava pela Avenida dos Expedicionários quando foi abordada por um motorista em um carro modelo Gol VW, de cor prata, solicitando um programa, às 22h30.

Eles se deslocaram para um loteamento em obras atrás do Bairro Vale do Sol. Depois de finalizar o programa fora do veículo, o homem empurrou a vítima e correu em direção ao interior do carro na tentativa de fugir sem pagar pelo serviço. A.M.R.J reagiu conseguindo recuperar sua bolsa, foi quando então o criminoso desceu do veículo e começou a agredi-la com golpes de barra de ferro. A vítima teve seu celular quebrado e a bolsa roubada junto com sua carteira de habilitação, documento da moto particular e R$ 600 em dinheiro.

“Sei que estou exposta a todo tipo de coisa assim como as minhas amigas mas nunca causamos nenhum problema para ninguém. Nunca tive passagem na polícia, não fico mexendo com as pessoas mas outro dia mesmo passou um carro devagar apontando alguma coisa e ameaçando a gente. Isso é sempre, infelizmente, apesar de ter sido a primeira vez que passo por uma situação como esta. O medo existe e fica principalmente o sentimento de revolta por tudo isso”, disse A. em entrevista ao site Mirassol Conectada.

O crime foi registrado na Delegacia de Mirassol como roubo. Segundo o relato à polícia, as características do agressor são: cor branca, altura mediana, magro, tinha barba e no dia da ocorrência trajava camiseta preta e calça escura. A vítima busca agora imagens das câmeras de segurança da região para tentar identificar o criminoso.

 

Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo, aponta ONG

Em 2014, a ONG Internacional Transgender Europe divulgou através de um relatório que o Brasil país onde mais ocorrem assassinatos de travestis e transexuais em todo o mundo. O estudo foi baseado no número de casos reportados, o que indica que ele pode ser ainda maior, já que há outros países como Irã e Sudão que não possuem dados disponíveis sobre este tipo de crime.

MC conversou com o colunista e psicólogo pós-graduando Leandro Azeredo de Brito, que comentou o caso registrado em Mirassol:

“Certamente se trata de um crime homofóbico, embora a aparência do caso possa dissimular a questão da homofobia. Afinal, podemos considerar homofóbica uma pessoa que acaba de ter relação sexual com uma travesti? A homofobia é uma questão complexa que envolve elementos da história individual, mas antes de tudo elementos culturais. Expressar-se de modo agressivo contra homossexuais, travestis e transexuais, seja no discurso ou em ato criminoso, provém de uma forma geral, de uma atitude sem crítica por parte de pessoas que internalizaram as homossexualidades de modo distorcido e depreciado, apoiados na dimensão de pecado, desvio ou doença.

Uma questão a ser considerada é que uma pessoa que tem relações sexuais com uma travesti, independente se assume um papel ativo ou passivo, é também homossexual. Um grande desafio para o homossexual, é geralmente, aceitar o próprio desejo e compreendê-lo como parte de sua própria identidade. Casos como esse, em que depois de finalizar o ato sexual culmina em uma agressão não são isolados. Negar-se a pagar pelo programa equivale, em dimensão simbólica, a negar o próprio ato, negar a própria sexualidade. Provavelmente, pagar pelo programa seria sentido como a legitimação da sua própria homossexualidade. A agressão e o roubo podem ser entendidos como um movimento ambivalente. Deseja-se algo da travesti, no caso, sua sexualidade bem resolvida. Como isso o agressor não consegue, rouba outros “objetos”, num ato deslocado, ato acompanhado da agressão, que tem a função dupla de destruir o próprio objeto de desejo (se não posso ter, destruo) e destruir a própria sexualidade, projetada no outro”, finalizou.

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DICIONÁRIO TRANS

Transexual
Termo genérico que caracteriza a pessoa que não se identifica com o gênero que lhe foi atribuído quando de seu nascimento.

Mulher transexual
Pessoa que reivindica o reconhecimento como mulher

Homem transexual
Pessoa que reivindica o reconhecimento como homem

Travestis
São as pessoas que vivenciam papéis de gênero feminino, mas não se reconhecem como homens ou como mulheres, mas como integrantes de um terceiro gênero ou de um não gênero. Preferem ser tratadas no feminino.

Fonte: Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos, de Jaqueline Gomes de Jesus