Hipertensão atinge 1 em cada 4 brasileiros e pode ser evitada com ações simples ou tratada

O cardiologista Maurício Bicudo afere a pressão arterial de paciente, no Instituto de Moléstias Cardiovasculares – IMC (Foto: Divulgação)
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Um a cada quatro brasileiros sofre com hipertensão arterial. São 50 milhões de pessoas, equivalente a soma das populações do Estado de São Paulo e Santa Catarina. Não bastasse estes números impressionantes, apenas um terço dos 50 milhões de hipertensos controla a pressão arterial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Daí a extrema importância desta sexta-feira, 26 de abril, o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial.

E uma característica desta doença torna ainda mais importante que a população tenha consciência dela e de seus riscos. “A hipertensão é uma doença silenciosa que, se não for adequadamente diagnosticada por médicos cardiologistas e bem tratada, pode levar a várias outras intercorrências à saúde da pessoa, principalmente a longo prazo, como acidente vascular cerebral, infarto, doença renal crônica e morte”, afirma o cardiologista Maurício Bicudo, do IMC – Instituto de Moléstias Cardiovasculares, de Rio Preto.

A prevalência da hipertensão é ainda maior com o avançar da idade. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), 61% das pessoas com mais de 65 anos são hipertensas.
A hipertensão arterial, explica o cardiologista, é uma doença crônica não transmissível, caracterizada por níveis elevados da pressão sanguínea (intravascular), que depende de fatores genéticos / epigenéticos, ambientais e sociais.

Embora seja uma doença grave, fator de risco importante para uma série de complicações cardiovasculares potencialmente fatais, como doença arterial coronária, AVC e doença renal, a hipertensão possui outro aspecto para o qual as pessoas devem se atentar. “Ela pode ser evitada ou controlada com adequações de estilo de vida e tratamentos iniciados cedo. Por isso, reitero ser fundamental o diagnóstico precoce pelo médico para que possa promover o tratamento adequado e individualizado de acordo com as características do paciente e hábitos de vida”, salienta o cardiologista do IMC.

Ações preventivas, no entanto, são imprescindíveis e a alcance de qualquer pessoa. Dr. Maurício cita a atividade física, por exemplo, que promove a vasodilatação arterial, reduzindo os níveis de pressão sanguínea, consome as calorias em excesso da alimentação, utilizando-as como fonte de energia, e libera substâncias químicas como a serotonina, a endorfina, a adrenalina e o cortisol, causando sensação de bem-estar auxiliando no controle pressórico.

Atividade física associada à alimentação saudável constituem um combo protetivo poderoso. “A dieta pobre em sódio (sal), rica em potássio, cereais, cálcio, frutas e vegetais, carne branca, de preferência, e laticínios com pouca gordura mais atividades físicas em torno de 150minutos por semana comprovadamente ajudam a controlar os níveis de pressão arterial e evitar os eventos cardiovasculares como AVC, infarto e morte prematura”, afirma Dr. Maurício Bicudo.

Segundo o cardiologista do IMC, a pessoa é considerada hipertensa quando apresenta elevação persistente da pressão arterial, ou seja, pressão arterial sistólica (PAS) maior ou igual a 140mmHg e/ou pressão arterial diastólica (PAD) maior ou igual a 90mmHg em duas ocasiões diferentes, utilizando a técnica correta de aferição e sem uso de medicação anti-hipertensiva específica.

Os principais fatores de risco para ter a doença são pessoas com idade acima de 60 anos, genética familiar de hipertensão, ingestão elevada de sal (sódio) e baixa de potássio, baixa ingesta de água, sedentarismo, sobrepeso/obesidade, uso excessivo de álcool, algumas medicações específicas, uso de drogas ilícitas, apneia ou hipopneia obstrutiva do sono.

Os sintomas da hipertensão, característicos também de outras doenças, são dor de cabeça, tonturas, opressão e aperto no peito. “Quando os níveis de pressão se elevam de forma súbita os sintomas podem ser mais intensos e é comum o surgimento de palpitações (batedeiras), dores no peito, formigamento dos lábios e dos braços, visão turva e alucinações visuais e até mesmo desorientação, confusão mental, crises convulsivas e síncope (desmaio) nos casos mais graves (encefalopatia hipertensiva)”, diz o médico, não deixando de ressaltar, mais uma vez, que a pessoa pode ter sua pressão arterial elevada constante, porém, na fase inicial, sem perceber os sintomas.

Por isso, a importância do diagnóstico inicial feito pelo médico pois há uma maneira correta de aferir a pressão, seguindo um fluxograma específico e muitas pessoas não sabem a maneira correta de obter essas medidas em casa resultando em valores equivocados da pressão arterial. No entanto, após o diagnóstico feito pelo médico no consultório, os pacientes poderão ser treinados e orientados a aferir a pressão arterial em casa, com a técnica correta, aparelhos autorizados e devidamente calibrados e em conjunto com o médico fazer o adequado acompanhamento da pressão, constituindo importante estratégia no controle dessa doença crônica tão prevalente em nosso meio, como reforçado pela mais nova diretriz de aferição da pressão arterial dentro e fora do consultório lançada nesse mês.

A hipertensão está no extenso rol de problemas cardiovasculares que podem ser evitados ou descobertos em estágio inicial se as pessoas realizarem o check-up cardiológico uma vez por ano. Dr. Maurício Bicudo integra no IMC de Rio Preto uma equipe multidisciplinar especializada no atendimento, diagnóstico e tratamento.

Tratamento, segundo o cardiologista, que pode ser não medicamentoso, ou seja, baseado em mudanças do estilo de vida com apoio e auxílio de equipe multidisciplinar, ou o apoiado em fármacos isolados ou associados ao combate dos níveis elevados de pressão arterial, que devem ser prescritos por médicos após uma detalhada consulta clínica com realização de anamnese, exame físico e raciocínio direcionado para os problemas apresentados pelos pacientes.

Do contrário, se não tratada ou mal controlada, a hipertensão acarretará lesões irreversíveis em órgãos importantes como o coração, cérebro, rins e os vasos, implicando em um aumento exponencial de eventos cardiovasculares, fatais ou não, como acidente vascular cerebral (derrame ou AVC), infarto agudo do miocárdio e morte súbita, além de outras comorbidades graves como as doenças da aorta (aneurisma e dissecção) e doenças renais crônicas.

Eficácia de dispositivos para aferição da pressão não está confirmada

Muitas pessoas aferem a pressão arterial utilizando-se de aparelhos automáticos de pulso e dispositivos chamados wearables (vestíveis, utilizáveis). O cardiologista do IMC alerta, no entanto, que a eficácia destes dispositivos não foi comprovada.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia publicou recentemente novas Diretrizes Brasileiras de Medidas da Pressão Arterial Dentro e Fora do Consultório, nas quais afirma que “ainda faltam estudos de validação e correlação mais consistentes” sobre estes aparelhos.

A SBC não recomenda o uso dessas novas tecnologias e dispositivos no acompanhamento de pacientes na prática clínica atual. A entidade informa que aguardará a realização e a divulgação de estudos clínicos que forneçam embasamento científico para que tal acompanhamento possa ser feito. Os monitores de dedo também ainda são imprecisos e não devem ser utilizados.