RESENHA: O Homem Invisível

O que não se vê pode ser mais aterrorizante!

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O Homem Invisível é, assim, um recomeço, a tentativa da Universal de atualizar seus monstros de forma isolada. Por essa perspectiva, a escolha de Leigh Whannell para a direção é um tanto quanto simbólica, visto que ele é o roteirista e protagonista de Jogos Mortais (2004), filme que deu uma boa revigorada no gênero. Whannell inicia o primeiro ato com estética elegante, cores frias e muitos espelhos, características de elegância que o cinema explora para expor certos distúrbios psicológicos.
A decisão do estúdio de entregar maior liberdade para cada projeto tem suas vantagens e desvantagens. Enquanto a nova versão de O Homem Invisível tem uma temática muito mais atual, que analisa efeitos de trauma e histórias de abuso, sua ligação com o material fonte impede que ele invista em um suspense psicológico que talvez fosse mais interessante para a história. Sem a opção de brincar com a mente da protagonista, Whannel investe muito bem em explicitar o elemento assustador no vazio, encontrando a maneira perfeita de brincar com as expectativas.
A excelente atuação de Elisabeth Moss, marca a trajetória do longa, porém, no início – com a levada do roteiro, parece exagerada. O clima brinca com o que não pode ser visto, usando o travelling da câmera dando a sensação de que sempre há alguém de olho. A sonora é viva, feita para o impacto, sendo ponto crucial para manter a tensão o tempo todo.
Personagens se virando abruptamente contra a protagonista ou reviravoltas que seriam facilmente evitáveis deixam sensação de potencial desperdiçado, assim como a decisão de não mostrar a dinâmica do relacionamento de Cecilia e Adrian antes da fuga. O trauma psicológico da personagem não se faz tão bem elaborado, cabendo a (Moss) reger a métrica da sanidade de sua personagem.
Portando, é uma releitura por outra visão: a visão de uma vítima do protagonista. Enquanto os longas anteriores focam nas questões morais e na ética do personagem-título, a decisão aqui é por seguir Cecilia (Elizabeth Moss) e, pela ótica dela, chegar ao terror. Decisão totalmente acertada, pela capacidade mostrada pela interprete, mas principalmente pelo momento em que a luta contra a violência doméstica ganha força. O Homem Invisível pode ser encarado como a metáfora da vida, em que as agressões e opressões vividas pelas mulheres passam de forma invisíveis aos olhos de sociedades machistas.