A história de Padre Ernesto, vigário assassinado há 91 anos em Mirassol

publicidade

 

Muitos moradores de Mirassol devem conhecer o nome “Padre Ernesto” apenas por conta de uma rua que existe no centro da cidade, mas o que poucos sabem é quem foi esse padre e porque sua história é importante para o município e continua sendo lembrada até os dias de hoje, mesmo 91 anos após a sua trágica morte.

Com a ajuda do historiador Henrique Frota, especialista em história local e que ocupou o cargo de curador do Museu  e de Diretor do Departamento de Cultura de Mirassol até o ano de 2017, conseguimos reunir algumas informações e vamos retratar aqui a história desse padre de acordo com os materiais disponibilizados por ele.

Padre Ernesto Maria de Fina nasceu na Itália, no dia 30 de novembro do ano de 1867 em Sala Consilina, filho de Giuseppe Fina e Jezualda Abbamonte. Aos treze anos ele ingressou no Seminário Diocesano, o qual precisou abandonar por motivos de saúde e tempos depois ingressou no Seminário Episcopal de Salerno. Recebeu dispensa do Vaticano para ser ordenado antes da idade canônica, fato que demonstrou sua vocação.

Ele se mudou para o Brasil no ano de 1896 e trabalhou em diversas cidades do interior. Conhecido na época como “Padre Fina”, mudou-se para Mirassol em 1922 para realizar a primeira missa da cidade, onde também se tornou o primeiro pároco do município.

De acordo com Henrique, relatos da época afirmam que o padre de “batina arregaçada, subiu e desceu os andaimes da construção da Igreja da Matriz carregando cimento e reboco”. A obra, que era um sonho de Fina, teve início em 1923 e levou sete anos para ser concluída. Dizem que o padre tirou recursos das próprias economias para investir na construção do santuário e de um grande Salão Paroquial, o que era considerada uma ideia muito avançada para a época.

“É o dia maior da minha vida!” – Exclamava, com lágrimas nos olhos, mirando do fundo da formosa igreja –  “Graças a Deus, cumpri minha missão”, disse durante a inauguração do templo.

Padre Ernesto Maria de Fina, foi o primeiro vigário de Mirassol, celebrou a primeira missa da cidade em 1922 e foi o responsável pela construção da Igreja Matriz na praça central (Foto: Autor Desconhecido)

Morte

No fatídico dia 14 de novembro de 1930, o padre deveria celebrar uma missa de sétimo dia às 6h, mas ele não estava se sentindo muito bem nesse dia, teve vômitos e mal-estar, sendo levado para a Casa Paroquial onde se recolheu ao seu leito. Pediu que telefonassem à família em luto e que fossem comunicados de que ele não poderia oficiar a missa esperada.

Pouco depois trouxeram para batizar uma criança à beira da morte. O Padre se levantou e benzeu a água batismal ali mesmo, numa bacia comum. Batizou a criança sentado pois mal conseguia ficar em pé. Neste exato momento chegaram dois irmãos, vindos de Bálsamo. Eles discutiram com o vigário que explicou, mais uma vez, que não poderia fisicamente ir celebrar a missa de sétimo dia na capela de Bálsamo. A cerimônia encomendava a alma de um antigo agricultor da região, pai deles.

O padre até sugeriu que procurassem outro pároco, em Rio Preto, mas há relatos de que os irmãos começaram a gritar exigindo que ele deveria ir de qualquer maneira. O padre então mandou que saíssem da Casa Paroquial, para gritarem lá fora. Nesse momento, um dos irmãos sacou um revólver e atingiu o padre pelas costas, enquanto ele tentava se salvar, o outro irmão repetiu o ato disparando mais tiros contra ele.

Seu corpo foi transferido naquela tarde para a Matriz. Foi velado até o dia seguinte e sepultado no centro da igreja que construiu. A missa de corpo presente foi celebrada pelo vigário de Rio Preto, padre Joaquim Manoel Gonçalves, acompanhado de religiosos de cidades vizinhas. Posteriormente, seus restos foram transferidos para uma carneira à entrada da Capela do Santíssimo, onde se encontram até hoje em repouso ao lado do altar da igreja.

Reportagem criada com base em informações disponibilizadas pelo historiador, 
Henrique Frota
Sugestão de reportagem do leitor Lucas Edefonso